terça-feira, 21 de agosto de 2012

Enfrentamentos I



Não sou homem de nomenclaturas vãs, de caracteres vazios, de tristezas urbanas. Tenho suspiros silvestres e pasto nas tardes ensolaradas. Meu pai era um poeta febril, um doente da vida. Eu canto as manhãs que me acordam com cantos selvagens. Não sou homem de divagações, meu pai, não entendo o sublime. Por isso lhe dirijo todas as palavras que escrevo, pois desenterro cadáveres melhor que metáforas.

Como pensar que já teve força de me carregar no colo, de me encantar a mãe e de lhe dar prazer. Como pensar na tua carne quente, na respiração ofegante, no poder da vida. O velho espectro morto jovem, uma aparência de dar dó. Sou eu mesmo seu filho? Mas as línguas todas cantam quando eu passo: “Lá vai o filho do espectro que anda perdido como o velho pai. O olhar é doente e vadio, e se são outros becos que anda, ainda é nos becos que vai”.

Imagino o meu tambor calando tua flauta, carregando o ar de um som corajoso. Mas covarde é o ar que se vai com o vento, e prefere bailar sob seus acalantos. E sou louco batendo na tampa do mundo sob sua regência ó defunto, sob seu próprio túmulo.